Tom Huddleston Jr. para o Make It em 26/05/2020
Como pioneiro da revolução dos computadores pessoais, o co-fundador da Microsoft Bill Gates passou décadas trabalhando em direção ao seu objetivo de colocar “um computador em todas as mesas e em todas as casas”.
Portanto, não é surpresa que, em meados da década de 1990, Gates estivesse entre os primeiros CEOs de tecnologia a reconhecer a vasta promessa da Internet de alcançar esse objetivo e expandir seus negócios.
Hoje, há exatamente 25 anos, em 26 de maio de 1995, Gates escreveu um memorando interno à equipe executiva da Microsoft e seus subordinados diretos para exaltar os benefícios de expandir a presença da empresa na Internet. Gates, que ainda era CEO da Microsoft naquele momento, intitulou seu memorando simplesmente: “O maremoto da Internet”.
“A Internet é um maremoto. Isso muda as regras. É uma oportunidade incrível e também um desafio incrível”, escreveu Gates no memorando.
O assunto do memorando era que a Internet estava rapidamente se tornando uma força onipresente que já estava mudando a maneira como as pessoas e empresas se comunicavam diariamente.
“Passei por vários estágios para melhorar meus pontos de vista sobre a importância [da Internet]”, disse Gates à equipe executiva da Microsoft no memorando, que a revista WIRED reimprimiu na íntegra em 2010. “Agora atribuo à Internet o mais alto nível de importância.”
Gates continua identificando seu objetivo principal do memorando: “Quero deixar claro que nosso foco na Internet é crucial para todas as partes de nossos negócios”.
No memorando, Gates explicou um pouco sobre como ele via a Internet sendo usada em 1995, com empresas e indivíduos publicando uma quantidade crescente de conteúdo on-line, de sites pessoais a arquivos de áudio e vídeo.
“O mais importante é que a Internet se tornou um local para publicar conteúdo”, escreveu Gates. “Ele tem usuários suficientes para se beneficiar do ciclo de feedback positivo de mais usuários, mais conteúdo e mais conteúdo, mais usuários.”
Gates já estava prevendo a Web 2.0, onde qualquer pessoa poderia se expressar na Internet através de blogs, fóruns, etc.
Gates viu isso como uma área em que a Microsoft teria que aproveitar as oportunidades disponíveis para atender seus clientes de software. Ele observa que o conteúdo de áudio e vídeo já poderia ser compartilhado on-line em 1995, inclusive em tempo real com telefonemas feitas na web e até mesmo exemplos iniciais de videoconferência on-line.
áudio e vídeo poderia ser compartilhado, mas não com a resolução de hoje, certo?
Embora essa tecnologia tenha proporcionado oportunidades empolgantes, diz Gates, a qualidade de áudio e vídeo desses produtos na época era relativamente baixa. “Mesmo em baixa resolução, é bastante instável”, ele escreveu sobre a qualidade do vídeo naquele momento, acrescentando que esperava que a tecnologia melhorasse eventualmente “porque a Internet ficará mais rápida”.
como disse acima, na época a velocidade de conexão não chegava nem perto da atual… Aqui no Brasil eu ainda usava um modem de 33K. Foi só perto do ano 2000 que consegui um modem de 56K. E pensar que hoje 100MB já está ficando devagar…
(E, com certeza, ele estava correto, pois o software de videoconferência tem sido cada vez mais procurado nos últimos anos e agora é amplamente utilizado pelos milhões de trabalhadores americanos que atualmente trabalham remotamente devido a restrições de coronavírus.)
Gates escreve que melhorar a infraestrutura da Internet para oferecer conteúdo de áudio e vídeo de alta qualidade on-line seria essencial para desbloquear a promessa da Internet. Enquanto o software Office e Windows da Microsoft já eram populares entre os usuários de computadores, Gates argumentou que eles precisariam ser otimizados para uso on-line, a fim de “garantir que você obtenha seus dados o mais rápido possível”.
Hoje com a integração do Office com a nuvem, podemos editar nossos documentos de qualquer lugar e de qualquer computador com acesso à Internet. Inclusive podemos alterar esses documentos em conjunto com outras pessoas ao mesmo tempo.
“Somente com essa melhoria e uma quantidade incrível de largura de banda adicional e conexões locais, a infraestrutura da Internet cumprirá todas as promessas da Rodovia da Informação completa”, escreveu Gates antes de acrescentar, esperançosamente: “No entanto, está em processo de acontecer e tudo o que podemos fazer é nos envolver e tirar vantagem.”
O então CEO da Microsoft também insistiu na necessidade de reforçar o próprio site da Microsoft, onde ele disse que clientes deveriam ter acesso a uma riqueza de informações sobre a empresa e seus produtos.
“Hoje, é bastante aleatório o que está na página inicial e a qualidade das informações é muito baixa”, escreveu Gates no memorando de 1995. “Se você procurar discursos meus, tudo o que encontrará são alguns discursos com mais de um ano de idade. Acredito que a Internet se tornará nosso veículo promocional mais importante, e pagar as pessoas para incluir links para nossas páginas iniciais será uma maneira interessante de gastar dinheiro em publicidade.”
Olha o tio Bill já fazendo backlinks muito antes do Google aparecer!! Hoje, a quantidade de sites que apontam para o seu fazem sua pontuação aumentar no ranking do Google.
Gates disse a seus funcionários que a Microsoft precisava “garantir a disponibilidade de ótimas informações” no site da empresa, incluindo o uso de capturas de tela para mostrar exemplos do software da empresa em ação.
Captura de tela para mostrar o funcionamento de softwares hoje é bem comum, inclusive com toneladas de vídeos-tutoriais no YouTube.
“Acho que uma parte mensurável de nosso orçamento de anúncios deve se concentrar na Internet”, escreveu ele. “Todas as informações que criamos – white papers, folhas de dados etc. devem estar em nosso servidor da Internet”.
Afinal, Gates argumentou que a Internet oferecia à Microsoft uma grande oportunidade de se comunicar diretamente com os clientes.
“Temos a oportunidade de fazer muito mais com nossos recursos. As informações serão disseminadas eficientemente entre nós e nossos clientes, com menos chances de a imprensa comunicar mal nossos planos. Os clientes chegarão à nossa ‘home page’ em números inacreditáveis e descobrirão tudo o que queremos que eles saibam.”
Obviamente, em 1995, não eram só os colegas executivos de Gates na Microsoft que precisavam se convencer que a Internet era o futuro. Em novembro daquele ano, Gates participou do programa “Late Show with David Letterman”, da CBS, para promover seu livro “The Road Ahead” e o então recém-lançado Internet Explorer da Microsoft, o primeiro navegador da empresa.
A Estrada do Futuro foi um livro muito comentado na época. Até hoje vale uma leitura. Li ele alguns anos atrás e é impressionante a quantidade de coisas que Gates acertou como iriam se tornar. Quanto ao Internet Explorer, ele foi lançado para barrar o crescimento da Netscape (o navegador mais usado na época). Este período foi conhecido como “Browser Wars” (Guerra dos Navegadores), pois a Microsoft incluiu o IE dentro do Windows para ganhar mercado. E sofreu vários processos por conta disso. Mas ganhou a guerra, até que o Chrome surgiu e… mas aí é história para outra ocasião.
Gates divulgou as possibilidades da Internet em sua entrevista com Letterman, chamando a internet de “um lugar onde as pessoas podem publicar informações. Eles podem ter sua própria home page, as empresas estão lá, as informações mais atualizadas.”
O comediante não ficou particularmente impressionado. “Ouvi dizer que você podia assistir a um jogo de beisebol ao vivo na internet e eu: isso me soa familiar… rádio?” Letterman brincou.
No mesmo ano, Gates deu uma entrevista à edição da revista GQ no Reino Unido, na qual previu que, dentro de uma década, as pessoas assistiriam regularmente filmes, programas de televisão e outros tipos de entretenimento on-line. De fato, 10 anos depois, em 2005, o YouTube foi fundado, seguido dois anos depois pela Netflix.
No entanto, Gates errou a previsão quando o entrevistador sugeriu que a Internet também poderia se tornar repleta de informações erradas que poderiam se espalhar mais facilmente para grandes grupos de pessoas impressionáveis. O cofundador da Microsoft duvidava que a Internet se tornasse um repositório do que agora pode ser descrito como “fake news”, argumentando que ter mais oportunidades de verificar informações de autoridades, como especialistas ou jornalistas, equilibraria a disseminação de informações erradas.
Pois é, desta vez Gates superestimou o ser humano, pois a maioria só repassa a notícia que recebeu no “zap zap” sem o menor interesse de checar se o fato é verdadeiro.
O artigo original você pode ler aqui: Here’s what Bill Gates said about the internet in a Microsoft internal memo 25 years ago today: It’s a ‘tidal wave’.
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